5.9.10

Acidente de trabalho é coisa séria mas, quando ele vem acompanhado de burrice é impossível não achar graça.

Transmito explicação de um operário, acidentado no trabalho,
à sua companhia seguradora. (A Cia. de Seguros havia estranhado tantas
fraturas, e em uma só pessoa num mesmo acidente).
Chamo a atenção para o fato de que se trata de um caso verídico, cuja
transcrição foi obtida através de cópia dos arquivos da cia. seguradora envolvida.


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À
Cia. Seguradora.
Exmos. Senhores,

Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais, esclareço:
No quesito nr. 3 da comunicação do sinistro mencionei: 'tentando fazer
o trabalho sozinho' como causa do meu acidente.
Em vossa carta V. Sas. me pedem uma explicação mais pormenorizada.
Pelo que espero sejam suficientes os seguintes detalhes:




Sou pedreiro e no dia do acidente estava a trabalhar
sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares. Ao terminar meu
trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de os
levar a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi colocá-los
dentro de um barril, e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente
estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto
andar), descê-lo até o térreo.


Desci até o térreo, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto
andar, de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior.
Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e segurei-a com
força para que os tijolos (250kg) descessem lentamente.



Surpreendentemente, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo
minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda..

Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade.
Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha
a descer. Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.
Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando
quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse
momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar
das fortes dores, agarrar a corda. Simultaneamente, no entanto, o barril

com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo.


Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25kg. Como podem
imaginar comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que,
próximo ao terceiro andar, quem encontrei?


Ora, pois, o barril quer vinha a subir. Ficam explicadas as fraturas dos

tornozelos e as lacerações das pernas.


Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio minimizar

os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos embaixo, pois

felizmente só fraturei três vértebras.


No entanto, lamento informar que ainda houve agravamento do sinistro,
pois quando me encontrava caído sobre os tijolos estava incapacitado
de me levantar, porém pude finalmente soltar a corda.


O problema é que o barril, que pesava mais do que a corda, desceu e
caiu em cima de mim fraturando-me as pernas.


Espero ter fornecido as informações complementares que me haviam sido solicitadas.
Outrossim, esclareço que este relatório foi escrito por minha enfermeira,

pois os meus dedos ainda guardam a forma da roldana.


Atenciosamente,

Antonio Soares

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